O que canto

Não hei de cantar a figura e a proeza humana
Medindo o tudo pelos passos errôneos
Destes seres, resquícios da verdadeira grandeza.
Hei de cantar o silêncio do vácuo.
O silêncio que envolve o desconhecido,
Este deus, que nos traz busca e propósito.
Hei de cantar estremecida e latente
A utopia que é ver o infinito.
Me dôo ao cosmos em verso e amor,
como se doa uma estrela ao amado,
Como a terra se doa a luz da lua
E a lua se doa a luz do sol
Pequena grande estrela
Para nós, tão insipientes e iludidos
Por crermos inconscientemente
Que é imenso o que é nosso.
Estrelas sorriem irônicas
Esperando que nós as desvendemos
Dessa nossa totalidade traiçoeira e singela,
Então eu canto para elas
Sob o domínio de meu encanto.

De Luz e Vazio

Eu não tenho alento na matéria.
A matéria é só meu corpo
E meu corpo é só poeira
De um espaço tão infinito
Que sinto-me excesso por ser nada.
Eu não tenho conforto na luz,
Pois de luz também sou feita
E à luz sucumbo clemente
Por uma paz que busco no caos.
Eu não tenho sono nem despertar,
Não possuo sentimentos eternos,
Eu só tenho, ó céus, estas palavras
Que para mim já são tanto
Que nelas eu poderia deitar-me
Afogar-me, vestir-me, amar-me,
No leito e no minúsculo universo
De ser um verso do tudo
Que nada mais é que um poema
De luz e vazio.

A fúria do cosmos

Os anéis de saturno envolvem-me
com sua poeira sedosa ao olhar e ao sonho.
Mil universos se acumulam em gravidade
nos meus braços nebulosos.
Carrego neles fardos invisíveis e densos
Junto a brilhos espetaculares
Que bailam nos meus fragmentos
de mil infinitos.
Marte faz-me guerra comigo mesma.
Brota do breu um brilho
Que jorra tal qual uma fonte
e decai mais lento que uma lágrima
distante anos-luz da paz.
Não se pode ouvir sequer um ruído.
Não adianta emitir. Nem o ouse.
Só a luz, mãe e filha da matéria,
Pode escorregar por este oceano 
De sinfônicas explosões
Num solo tão melódico e tão furioso
Do eterno momento do silêncio.
As dores tornam-se vísceras de rocha
E luz e poeira e nébula e gás.
As vísceras são compressas, esmagadas,
Tortuosamente compactadas 
E ao mesmo tempo tão explosivas
Que foge do vazio a dor e a anti-dor,
A matéria e a anti-matéria,
O grito de mais um poema.
Outro universo se cria! Explosões!
Mas só ficam as faíscas de paz
No desalento frio da nebulosa.
A fúria acelerada de estrelas
Decadentes e ascendentes
É trêmula e é estapafúrdia.
A fúria exclama cada gota de ódio
E de lembranças de outras eras
E de outros universos.
A fúria do meu cosmos constrói-me
E ergue-me em pedestais cristalinos
Iluminados por grandezas distantes
Que tornam-se insignificantes
Se não posso ir até lá.
A fúria do meu cosmos massacra!
Aperta a origem até extrair toda a luz,
Enforca pleiades e super novas!
A fúria marcha tal qual um exército de caos
E ataca  infernos e céus dentro de mim
Enquanto eu explodo em asteróides e meteoros,
Derramando uma rotineira chuva de cometas
Guardados em lágrimas.

Andressa Araújo



Este é o poema que me deu a idéia deste blog.
Aqui, só se falará dos meus universos.
Sinta-se distante do chão e mais perto do infinito